Revista Ietec :: Outubro - Dezembro de 2009
Quando a mais grave crise econômica dos últimos 50 anos chegar ao fim, o mercado de trabalho que conhecemos hoje estará bem diferente, assim como os processos produtivos e a gestão de pequenas, médias e grandes empresas. A mudança necessária e positiva surge após um forte período de retração da economia, marcado pela ausência de investimentos e pela elevação das taxas de desemprego em todo o mundo.
Em 1935, Albert Einstein já dizia: “A crise é a melhor benção que pode ocorrer com as pessoas e países, porque a crise traz progressos. É na crise que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias”.
O convite à mudança sugere a cada um a revisão de atitudes e conceitos, de posicionamentos e de estratégias para a retomada da produtividade no pós-crise. Contudo, não se pode esquecer que os problemas do passado, considerados freios para a arrancada da economia de qualquer país, continuam a existir. Talvez representando agora mais perigo que anteriormente.
Capital humano ainda mais valorizado
Um dos desafios que teremos pela frente é a escassez de mão-de-obra especializada no país.
Para o mestre em Administração, superintendente administrativo da ARG e coordenador dos cursos da área de Tecnologia da Informação do Ietec, Antônio de Pádua Pereira, para garantir a produtividade no pós-crise, empresas deverão lançar mão de políticas e práticas agressivas de retenção e, principalmente, qualificação da sua mão de obra.
O perfil profissional ganha um novo valor para os negócios. Considerando que o conhecimento que as empresas necessitam para a retomada da produtividade está nas pessoas, investir nos profissionais é o primeiro passo para que as organizações se diferenciem no mercado.
Antes da eclosão da crise, iniciada em setembro de 2008, a Associação Brasileira de Treinamentos e Desenvolvimento – ABTD já identificava a preocupação das empresas em capacitar seus profissionais. Em um estudo que ouviu 305 empresas, a ABTD mostrou que 70% delas já mostravam uma clara tendência em ampliar seus investimentos em treinamentos.
Mas a chegada da crise, acompanhada de seus efeitos sobre as empresas, adiou boa parte destes investimentos. Neste aspecto, o que chama a atenção do professor Antônio de Pádua é a preocupação do profissional quanto a sua qualificação:
“Antes da crise, já era possível perceber uma forte tendência da política de ‘autodesenvolvimento’. Em outras palavras, cabe hoje ao profissional, identificar tendências, necessidades e oportunidades surgidas e/ou demandadas no ambiente de trabalho, buscando sua formação e atualização para poder atendê-las”.
Para o diretor regional da Siemens e coordenador dos cursos de MBA do Ietec, Wilson Leal, a educação continuada é reconhecida como chave da produtividade e da valorização profissional. “O ambiente de trabalho empreendedor e participativo contribui para a criatividade e a inovação. São estas as características mais comuns entre as empresas que se dão melhor neste aspecto”.
No que se refere ao perfil profissional ideal no pós-crise, Leal faz um alerta: irão se destacar neste novo mercado globalizado e competitivo os profissionais focados em resultados, que combinam auto-confiança e empreendedorismo com educação continuada e estão continuamente monitorando seu desempenho em bases comparativas.
Pesquisa realizada mundialmente pela Manpower confirma as tendências apontadas por Pádua e Leal. O estudo apresenta as quatro principais mudanças do mercado de trabalho no pós-crise. São elas: a escassez de talentos, o aumento da sofisticação no gerenciamento dos talentos, a revolução tecnológica e o deslocamento do poder do empregador para o indivíduo.
"Existe uma grande incompatibilidade entre aquilo que as empresas precisam e aquilo que grande parte dos profissionais pode oferecer", explica a country manager da Right para América Latina, empresa que integra a Manpower, Elaine Saad. De acordo com a executiva, este cenário mostra que executivos precisarão lidar com desafios ainda maiores que o ajuste de caixa. A atuação de seus profissionais daqui para frente envolve a própria sobrevivência da organização”, afirma a executiva.
"A pergunta que toda empresa deve fazer é se ela está se preparando para obter a maior e melhor produtividade de uma força de trabalho que cresce complexa e de forma diferente", questiona Elaine Saad.
Dinamismo também para as empresas
A analista de Recursos Humanos da Esab, Laila Botelho, afirma que a busca pela produtividade no pós-crise obedece também a uma nova exigência organizacional. “Hoje temos que ser mais velozes, versáteis e multidisciplinares para conseguirmos acompanhar a velocidade destas mudanças”. Para ela, uma gestão centralizadora ficará atrás das inovações e resultados e completa: “O profissional de hoje em dia busca liberdade para criar e se desenvolver com uma orientação eficaz”.
A afirmação de Laila Botelho encontra respaldo na opinião de Wilson Leal: “Estruturas centralizadoras e autoritárias não darão respostas necessárias em tempo hábil e comprometerão seriamente a inovação”.
Antônio de Pádua, no entanto, ressalta que em alguns segmentos a centralização é quase uma necessidade: “Porém, o mais importante é identificar e entender onde e como ocorrem a unilateralidade e a centralização. Entendo que a centralização mais prejudicial aos futuros negócios será aquela que cerceará a difusão do conhecimento”, alerta.
O que aprendemos com a crise:
- É preciso ter bases sólidas, reais e sustentáveis para que haja crescimento de longo prazo. A gestão do conhecimento, em sua mais ampla concepção, é um dos principais sustentáculos para alcançar este objetivo;
- A palavra do momento é “inovação” e também o desafio das organizações e profissionais. Faça o melhor com mais qualidade, porém, com menos recursos;
- Antecipe-se a crise com o radar de negócios propiciados pelo marketing estratégico. Invista na gestão sistemática, valorize o RH, busque a criatividade. Estes são ingredientes poderosos para enfrentar crises.